quinta-feira, 14 de abril de 2011

O nascimento de Lucas

 Caminhando nas terras gélidas, onde a neve já bombardeava o corpo desprotegido, o sol lhe apesar de iluminar não amenizava o frio que a jovem de pele alva sentia, seus pés estavam inchados já de tanto caminhar, fazia tempo que seu marido havia falecido, uma terrível doença que dizimara toda sua familia, todos os seus amigos, e todos os seus conhecidos, a barriga já lhe incomodava, dores ela sentia, mas nada ela podia fazer além de procurar-se manter viva por si e pelo seu filho.

A cada passo que dava, seus pés ficavam cada vez mais dormentes, nem calçados ela tinha, a única sobrevivente de uma peste dizimou sua vila, seu olhar estava distante, seus longos cabelos loiros balançavam com a ventania fria, as dores  cada vez lhe incomodavam mais, a noite seria um tormento para ela como jamais vira antes.

A entrada de uma caverna entre as dezenas de montanhas brancas cobertas pela neve talvez fosse um abrigo para a jovem cada vez mais exausta, seus pés abriam feridas a medida que caminha pelo traiçoeiro chão da caverna, um lugar seguro assim ela pensava era sorte do destino? Ou talvez fosse uma mera coincidência ali no chão resquícios de uma antiga fogueira onde o cheiro de enxofre ainda estava presente, mas caiara ao chão, ao ver silhueta de um corpo totalmente falecido, a luminosidade apesar de pouca era refletida por alguns cristais ao teto...

A jovem caia ao chão, e uma enorme dor era sentida, o susto talvez selara o destino da jovem, ela sentia um liquido quente escorrer pelas pernas, seria o fim pensou ela, tentando se levantar, apoiava-se nas estalagmites  com dores tão cruéis quanto uma faca penetrando o peito, estaria o destino de seu filho selado naquele momento? Encostava o corpo na estalagmite e sentava-se ao lado do corpo morto ao seu lado, ela se juntaria a ele naquele momento, os olhos cada vez mais pesados se fechavam.

Poderia ela morrer ali? Em sua mentes lembranças de um passado recente chegavam de modo abrupto e violento, lembranças de quando seu marido, de pele branca como a neve e cabelos totalmente negros, a pediu em namoro perante seus pais, a pediu em casamento perante os nobres Solem e Luna. Lembranças dos momentos que estiveram na estufa florida caminhando de mãos dadas sob a lua cheia, o primeiro beijo, de sua primeira vez que entregou-se aos prazeres carnais, poderia ela sonhar em alguns momentos que hoje estaria ali? Christine, a filha de Solem e Luna, casada com o maior cavaleiro da sua cidade Lucas...

Despertara com as gotas que caiam em sua testa, que escorriam pelo seu corpo cansado, a água gélida talvez  fosse um sinal que ainda estivesse ali viva, a dor sentida, a exaustão, e outros fatores a beneficiavam, pois ela sabia que estava ali viva. Só que mais uma vez o destino resolvera brincar com o destino da jovem, os olhos sombrios no fundo da caverna reluziam, como o sinal de que a fera estava ali para saciar a fome, que a muito tempo não sentia o gosto da carne.

Levantava-se aos trancos e barrancos, a jovem levantavam correndo na caverna, a fera a perseguia, ela não podia correr mais que a fera em sua condição, mas mesmo assim tentava, mas logo tropeçava com a pesada barriga lhe incomodando, caiara por sorte de costas ao chão, onde via finalmente o rosto da fera, um imenso lobo do tamanho de um cavalo, e uma cicatriz em seu olho esquerdo que demonstrava o seu isolamento talvez, ela não tinha tempo para pensar nisso, a lobo saltara para fazer dela se jantar, fechava seus olhos, mas mais uma vez fosse um coincidência do destino, ou sorte, ela novamente abria os olhos e via que não havia sido devorada, o corpo imóvel do lobo estava ao seu lado, com uma estalactite em seu tronco. Talvez ela deveria estar agradecida por aquele lobo estar ali, se não talvez fosse ela a vitima...

A barriga cada vez mais a incomodava, seus pés feridos, e suas frágeis vestes, eram bombardeadas pelo frio rigido daquela região, dores cada vez mais incessantes elas sentia, conseguira sair da caverna, as suas forças estavam cada vez mais vazias, a única coisa que ainda a mantinha de pé era seu esforço em salvar talvez seu filho.

Uma nevasca se abatia pela região, passo após passo se tornava uma luta entre a vida e a morte da jovem que caminhara sentindo a barriga com cada vez mais dores, e menos tempos entre elas, até que finalmente não aguentara mais de pé e ajoelhara sobre a neve, era o fim para ela, morreria ali soterrada na neve e seu filho nunca iria nascer, era o fim do legado de seu povo, fechava os olhos e caia totalmente sobre neve...

Seus olhos se abriam, e já não sentia mais dores, a visão turva e embaçada fora o suficiente para ver uma criança nos braços de um homem calvo de cabelo negro e de pele como a de seu marido, trajando sua armadura avermelhada, o homem entregava o seu filho em seus braços, onde com o ultimo esforço o ergueu e olhou em seus olhos...

"Lucas... Meu filho... Cui...de... se"
 A mulher finalmente finalmente esgotava suas forças e os braços arreavam por cima do seu corpo, a última visão que tinha era a do homem pegando a criança no colo, onde a mesma levantara a mão em direção ao filho como um ultimo esforço de sua vida, fechava os seus olhos para o seu ultimo sonho.

Lucas em homenagem ao seu pai, Sturn o sobrenome da familia que o criou, Iceheart o lugar onde nasceu...

Lucas Sturn Iceheart. 01/01/2320.

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